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Compreender e mal interpretar UCDA
Por Glenn Hovemann, publicado na edição de Julho/Agosto de 2016 da Miracles Magazine
Muitos professores de Milagres recentemente circularam e compartilharam um material que compara Um Curso em Milagres (UCEM) a Um Curso de Amor (UCDA) e afirmam que este último é uma “regressão” e uma “tentativa de preservar algum valor para o ser individual e o corpo.” Fiquei surpreso, embora eu aprecie uma conversa que leve a uma melhor compreensão. É uma oportunidade para compartilhar amor e diálogo.
Há cinquenta anos, Jesus ditou 1250 páginas magníficas a Helen Schucman. Quando UCEM chegou em minha vida em 1978, eu sabia com certeza que era verdadeiro. Com o passar dos anos, ele provocou uma revolução espiritual. Por que ditar outras 700 páginas a Mari Perron? Por que ele deu um nome tão similar como “Um Curso de Amor”? Por que ele o identificou como uma “continuação”? E pelo fato de UCDA obviamente não ser uma mera reformulação de UCEM, o que está acontecendo?
Antes de tentar responder estas questões, talvez seja útil rever algumas maneiras em que os dois cursos são intimamente relacionados. Em ambos os Cursos, Jesus se apresenta como sendo a Fonte. Ambas as escritoras, Helen Schucman e Mari Perron, descrevem eventos extraordinários em torno de sua transmissão. Nenhuma das duas mulheres poderiam ter escrito tal obra por conta própria. Em última instância, a autenticidade de materiais canalizados, ou de qualquer ensinamento espiritual, é uma questão de sabedoria interior. Com base em minha experiência, aceito UCEM e UCDA como tendo igual autenticidade. Milhares e cada vez mais pessoas também aceitam.
Ambos os Cursos são da mesma tradição. Ambos usam terminologia idêntica e especializada para transmitir temas chave. Ambos se referem ao fato de que ego “fez” seu mundo por meio da “projeção”, em contraposição ao Espírito, que “cria” ao “estender” a si mesmo. De maneira similar, a solução de UCEM para o pecado é “perdoar o Filho de Deus por aquilo que ele não fez.” Como UCDA coloca, O verdadeiro perdão simplesmente olha além da ilusão para a verdade, onde não há nenhum pecado a ser desculpado, nenhum erro a ser perdoado. (C:16.12) (Para uma melhor leitura, todas as citações diretas de UCDA estão em roxo)
Os dois Cursos afirmam que somos ideias de Deus, incluindo a noção de que Deus, o Pai, é uma ideia. UCEM: “O que achas difícil aceitar é o fato de que, como teu Pai, tu és uma ideia.” (T-15.VI.4:5) UCDA: O pensamento de Deus sobre ti é uma ideia de verdade absoluta. Tua existência se origina dessa ideia e dessa verdade. A existência do ego se originou de tua ideia de um ser separado, um pensamento ou ideia de inverdade absoluta. (T3:7.1) Como sabemos, ideias não deixam a sua fonte.
Ambos os Cursos falam de Cristo como sendo a identidade que compartilhamos. UCEM: “Cristo é o Filho de Deus como Ele O criou. É o Ser que compartilhamos, unindo-nos uns aos outros e também a Deus.” (L-pII.6:1) UCDA: O Cristo em ti é tua identidade compartilhada. C:P.39
Ambos falam da grande diversidade da criação. UCEM: “A criação é a soma de todos os Pensamentos de Deus, em número infinito, onipresentes e ilimitados.” (L-pII.11:1)
UCDA: “As expressões de amor são tão inumeráveis quanto as estrelas no universo, tão abundantes quanto a beleza, tão multifacetadas quanto as pedras preciosas da terra. Digo mais uma vez que igualdade não significa mediocridade nem uniformidade. Tu és uma expressão única do mesmo amor que existe em toda a criação.” (C:20.30)
Estes significados são idênticos e centrais nos dois Cursos.
O Curso original não se apresentou como a palavra final. No Epílogo do Livro de Exercícios, afirma: “Este curso é um começo, não um fim.” E ao se referir ao Espírito Santo, acrescenta: “E agora eu te coloco nas mãos Dele para seres o seu fiel seguidor… Deixa-O continuar te preparando.” (L-Epílogo.1,4)
Há cinquenta anos atrás, a consciência do ego estava profundamente arraigada. UCEM chegou e fez a limpeza pesada. De acordo com UCDA, o Curso original abriu uma porta ao ameaçar o ego. C:P.5
O trabalho, entretanto, não terminou simplesmente porque ainda temos que aceitar totalmente nossa identidade como Cristo. Ainda temos que aceitar totalmente e, portanto, experimentar nossa realização. Em outras palavras, ainda temos que ir “além do aprendizado”. Ir além do aprendizado era o que UCEM pretendia realizar. Como dito na Lição 169: “O passo final deve ir além de qualquer aprendizado.” Ele diz que o que vai além do aprendizado é a graça, a sabedoria que vem por meio da aceitação do amor de Deus. UCDA diz: Enquanto continuas esforçando-te para aprender aquilo que não pode ser aprendido, e enquanto continuas a ver a ti mesmo como um estudante que tenta obter aquilo que ainda não tens, não podes reconhecer a unidade em que existes e estar livre do aprendizado para sempre. (A.4)
Ele diz que aderir a um padrão de aprendizado que nos serviu antes, e o fato de não reconhecermos a unidade é a única razão para a continuação do material didático fornecido em Um Curso em Milagres.
Quantas pessoas se dedicam cuidadosamente ao Curso? Eu já fui uma delas por muito tempo. E tenho que admitir que, apesar das décadas de estudo, oração, alguma quietude da mente e uma paz muito maior, eu ainda sentia que “algo estava faltando.” Somos treinados desde o jardim de infância a sermos estudantes, a sermos aprendizes. A educação foi colocada em um pedestal muito alto em nossa sociedade. Infelizmente, o conhecimento não nos leva de volta para Casa. Saber, sim. Experimentar, sim.
O novo Curso de Jesus não é projetado para a mente, a qual comumente igualamos a aprender, mas para o coração, que já sabe. “Não é um caminho de pensamento e esforço, mas um caminho de sentimento, simplicidade e relacionamento direto. (A.4). Esse tipo de aprendizado sem esforço e sentir é diferente daquele com que estamos acostumados.
UCDA é uma transmissão espiritual em forma de livro. Esteja preparado para lê-lo de uma maneira diferente, com uma atitude diferente. Se for abordado como um livro didático, com a cabeça guiando o caminho, nem mesmo comece! Se UCDA for abordado de forma mental, com os olhos no retrovisor para compara-lo com UCEM, talvez ele lhe confunda. Numerosas vezes em UCDA, Jesus pede, como nessa passagem: Enquanto lês, atenta-te ao teu coração, pois é aí que esse aprendizado entra e onde permanecerá. Teu coração se converte agora em teus olhos e teus ouvidos. (…) A única mudança de pensamento que te é pedida é que compreendas que não precisas dela. (C:3.14)
UCDA não fala para a mente egoica. Isso seria fútil. Nem mesmo fala para o espírito, que não precisa de instrução. Em vez disso, é direcionado para “o Cristo em ti”, para despertar a consciência Crística esquecida. O Cristo em ti é o que é capaz de aprender, em forma humana, o que significa ser uma criança de Deus. (C:P.7). Mas é necessária muita disponibilidade para mergulhar profundamente em outro Curso extenso com uma mente inocente que possa, pelo menos por um tempo, suspender o julgamento e dizer: “Eu não sei.”
A partir dessa compreensão, para aqueles que desejam comparar e contrastar, vamos abordar mais especificamente as questões levantadas. Em um nível, a questão principal é se UCDA é ou não uma tentativa de preservar um valor para o ego. Em um nível mais profundo, a questão é se UCEM e UCDA concordam com o que nos é oferecido eternamente, além de todo aprendizado.
A fusão do céu e da terra sempre foi a meta de Jesus, como em seu Pai Nosso – “Seja feita a Vossa Vontade assim na Terra como no Céu.” UCEM diz: Passará o Céu e a terra significa que não continuarão a existir como estados separados. (T-1.III.2) Porém, ele não elabora exatamente como o céu e a terra “continuarão a existir” inseparavelmente. UCEM é frequentemente interpretado como se dissesse que toda forma é ilusão, o que implica que a terra simplesmente deverá passar e não se fundirá ao céu. UCDA, por sua vez, claramente afirma que a forma tem um importante e contínuo papel na Expiação e que, considerar toda forma como ilusória é uma interpretação equivocada; que a forma, em si mesma, é neutra e a percepção equivocada da forma é o que é ilusória.
- Ela [a mente] permaneceu entre ti e teu próprio conhecimento interior, presa em um sonho de percepção. ( A.19)
- Tua percepção criou uma realidade irreal daqueles separados e que não são amados, frequentemente chamada de inferno ou inferno na terra.( D:Dia16.15)
- A consciência Crística substitui a percepção pelo saber. (D:Dia12.7)
- A visão verdadeira vê a vida eterna onde a percepção via apenas a vida finita e os corpos mortais. (T4:4.14)
Como os estudantes de Milagres bem sabem, UCEM usa a comparação repetidamente como técnica de ensino. Compara muitas vezes o real e o irreal, o falso e o verdadeiro, e o medo e o amor, para apontar a insanidade da percepção do ego. Em UCDA, Jesus reflete em seu estilo próprio de ensino e diz: Para alguns de vós, a repetição das propriedades daquilo que é falso, que ajudou vosso aprendizado [em UCEM], pode agora atuar como um obstáculo à tua aceitação, pois te agarras a ideias acerca de falsa representação, em vez de abandona-las para acolher a verdadeira representação. No tempo do aprendizado, estavas tão enraizado em tuas falsas crenças, que sua insanidade precisava ser declarada repetidas vezes. No entanto, à medida que entramos nesse novo tempo da forma elevada, essas mesmas ideias – ideias que muitos de vós relacionastes à forma em vez de à vossa percepção da forma – devem ser rejeitadas. (D:6.2)
UCDA ensina que a forma, sendo por si só neutra, é uma representação falsa (ego) ou uma representação verdadeira (Consciência Crística). De ambos os jeitos, a forma é simplesmente uma representação do significado que lhe é atribuído. A representação falsa que pressupõe que o ego é o ser é aquilo que levou ao mundo que vês. A representação verdadeira do Ser que tu és (…) levará à visão verdadeira e a um novo mundo. (T3:1.3) O corpo não é o que somos (“Eu não sou um corpo”), mas ele pode representar, ou revelar, o Cristo na terra. Este milagre dará um passo a um novo estado, em que apenas “as leis do amor de Deus” existem mesmo na realidade física (T3:12.7).
Estas ideias não são alheias ao Curso original, que diz:
- É a Sua Santidade que ilumina o Céu e que traz à terra o puro reflexo da luz do alto, em que a terra e o Céu estão unidos como um só. (L-182.4)
- Tu és o próprio Filho santo de Deus. Lembra-te disso e a terra e o Céu serão um só. (L-191.11)
Certamente, há pontos de potencial confusão entre os Cursos. Por exemplo, UCEM diz: “A “realidade” da morte está firmemente enraizada na crença segundo a qual o Filho de Deus é um corpo. E se Deus tivesse criado corpos, a morte seria verdadeiramente real. Mas Deus não seria amoroso.” (M-27.5:1-3) Para a percepção do ego, a morte é bastante real mas, de fato, é ilusória. No entanto, o Cristo, como Jesus demonstrou corporalmente, não está sujeito à morte e não é ilusório. É a este Ser Crístico que UCDA se refere, várias vezes, como o “espírito ressuscitado na forma”, “a ascensão do corpo”, ou mais comumente, como “o Ser elevado da forma.”
Na minha opinião, UCDA não contradiz UCEM, mas oferece perspectivas adicionais, que podem dar origem a uma compreensão mais profunda. Uma destas perspectivas diz respeito ao corpo e à fisicalidade: ele convida a uma experiência de verdade – liberdade, alegria, luz – que pode acontecer se soubermos que NÃO somos corpos – mesmo enquanto ainda os temos! O corpo se tornou um ajudante. Enquanto escrevo, estou intensamente consciente da pobreza das palavras. Tentei resolver uma aparente contradição usando as ferramentas da “velha mente”, a mente habitual que fatia e pica, que sempre compara e interpreta, a mente que sempre está em busca algo. Uma maneira melhor só pode ser sugerida naquilo que Jesus explica em detalhes como a arte do pensamento. A arte do pensamento é uma dádiva que surge do interno. Abrange tanto a completude quanto o relacionamento. É o milagre de ver de maneira diferente.
Jesus quer muito que escolhamos a Consciência Crística – a experiência de unidade – agora, nessa vida. Desde o começo de minha imersão em UCDA, e a cada leitura, tenho a nítida sensação do deleite de Jesus acerca do fato de que sua missão está atingindo uma crescente, um ponto sem volta. Estamos à beira de algo genuinamente novo, algo que a terra nunca viu antes. UCDA apresenta um portal para o amor, que não pode ser ensinado, mas pode ser experimentado como nossa verdadeira identidade, e compartilhado. Assim, seus Cursos se desenvolvem em força e beleza.
Um Curso de Amor não preserva um domínio para o ego. Em vez disso, ele nos chama para a nossa herança que está além do ego. Estou sugerindo que UCDA é um “próximo passo” necessário a todos os estudantes de Milagres? Não, apenas que os buscadores verdadeiros decidam por si mesmos, guiados pelo coração e não pela mente.
Glenn Hovemann, estudante de UCEM desde 1978, é editor da Take Heart Publications, que publicou Um Curso de Amor. Ele deseja agradecer o encorajamento e a assistência generosa de Laurel Elstrom, Celia Hales, Heather Holmes, Michael Mark, Mari Perron e Christina Strutt para este artigo.
Venho lendo UCDA e sentindo que ele nos engata ao percurso final.
Gratidão aos receptores e trabalhadores que trouxeram este artigo tão minucioso. ????✨????
Que bom saber que a mensagem de Um Curso de Amor tocou o seu coração! Um grande abraço, Juliana Kurokawa